Violência contra criança e adolescente, sob todas as formas, será tema de evento técnico em Marília nesta quinta-feira (21). A realização é da Secretaria Municipal da Saúde, que divulgará relatório da pasta com base nos casos notificados.
O encontro acontece a partir das 13h30 no teatro do Colégio Sagrado Coração de Jesus. As vagas foram distribuídas entre os serviços públicos envolvidos e organizações da sociedade civil que atuam no atendimento à criança e ao adolescente no município.
O número de registros oficiais no município saltou de 45 em 2014 para 161 em 2017. Com o enfrentamento, a tendência é que o problema torne-se cada vez mais conhecido.
A terceira edição do encontro, organizado pelo Programa de Atenção à Saúde da Criança, contará com a presença do médico e deputado estadual Carlos Bezerra Jr, especialista em Desenvolvimento da 1ª Infância pela Universidade de Harvard (EUA).
O médico tem uma história de lutas pela proteção de crianças e adolescentes, com destaque à relatoria da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pedofilia, instaurada na Câmara Municipal de São Paulo, quando vereador na Capital.
Na época Bezerra Júnior trabalhou na edição da cartilha “7 Passos para o Enfrentamento da Violência Sexual Infantojuvenil”, que instrumentaliza pais e educadores na luta contra esse crime. O material é referência nacional e será tema da palestra em Marília.
Kátia Santana, secretária municipal da Saúde, destacou a importância do evento e lembrou que, nas edições anteriores, o movimento contou com o entrosamento dos profissionais de Saúde e Assistência Social. Já neste ano, a meta é envolver e empoderar a Educação.
EM NÚMEROS
A enfermeira Fernanda Bigio Cavalhieri, enfermeira responsável pelo programa Saúde da Criança no município, explica que a elevação no número de notificações não pode ser confundida com “aumento da violência”, de forma simplista.
Ela lembra que o número de casos notificados reflete maior uso do instrumento da notificação (os profissionais de Saúde, Educação, Assistência Social) estão aderindo ao enfrentamento e tornando a violência mais conhecida, em números.
“Essa realidade está sendo tirada da obscuridade. A subnotificação é um problema grave, reflete uma situação muito íntima e restrita ao núcleo familiar. Com esse movimento para reduzir a subnotificação, estamos dando voz às vítimas, através dos profissionais capacitados”, disse a enfermeira.
Em 2014, a Vigilância Epidemiológica de Marília recebeu 45 notificações; no ano seguinte, o número oscilou para 42; em 2016 subiu para 83 casos e no ano passado, 161. Os dados chegam pelo “Disque 100”, telefone disponibilizado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, ou ainda pelas fichas de notificação preenchidas pelos profissionais de Saúde, Assistência Social e Educação.
O detalhamento dos casos de 2017 em Marília mostra que, do total de 161 casos, em 50 deles ocorreu violência física, 47 sexual e 36 lesão autoprovocada. Em 70 episódios, o agressor/violentador é conhecido ou faz parte do núcleo familiar mais próximo (pai, mãe, padrasto, madrasta ou irmão).
As meninas são as vítimas mais frequentes (nos casos notificados), com 68,94% dos registros. Em 31,05% dos abusos, as vítimas foram meninos. São duas as faixas etárias com maior número de denúncias: 12 a 15 anos (58 notificações) e 16 a 18 (43 registros). Chama atenção também o número de bebês vitimados: 21 crianças, no universo de 161 casos computados pela Vigilância Epidemiológica.
“O evento lança um holofote sobre o tema, alerta toda a sociedade e valoriza um trabalho que fazemos de forma permanente. Ajuda também a divulgar os mecanismos de proteção, fortalecendo a rede que funciona no município e evolve saúde, assistência social, educação, judiciário, cada um com sua atribuição”, destacou Fernanda.
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