Pesquisa pioneira, iniciada no final do ano passado pelo Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de Marília e apoio técnico da Sucen (Superintendência de Controle de Endemias), tem animado os estudiosos e os profissionais que atuam no combate ao Aedes Aegypti. Nova técnica utiliza o próprio mosquito para reduzir a população de vetores, transportando larvicida nas patas e contaminando outros criadouros.
A etapa atual começou em novembro e vai durar dois anos, Marília é o único município do interior incluído na lista. Os demais são capitais de três regiões: Fortaleza, Recife e Natal (Nordeste); Goiânia (Centro-Oeste) e Belo Horizonte (Sudeste). O trabalho acontece de forma simultânea nas seis localidades.
A zona sul da cidade foi escolhida para intervenção. Já a região norte recebe as ações tradicionais de combate ao Aedes e tem seus dados acompanhados como “testemunha”. É a maneira que os estudiosos têm para realizar análise comparativa.
O grupo visitou uma amostra de duas residências e instalou um dispositivo bastante simples, formado por um pequeno balde com água, revestido na parte interna por um tecido próprio aveludado, com aplicação do produto químico.
No tecido é aplicado o larvicida pyriproxyfen triturado até a consistência de um pó. A armadilha permite que as fêmeas sejam atraídas até o recipiente. Dessa forma, ao pousarem na armadilha, os mosquitos ficam impregnados com o produto que acaba sendo levado por eles próprios para outros criadouros, aumentando o combate às larvas.
Em dezembro, logo após o início da ação prática, a média de ovos coletados por paleta ficou em 54 nas armadilhas com larvicida impregnado, na zona sul. Na mesma época, sem o produto químico, a região norte registrava média de 43 por paleta.
Já em abril desse ano, após quatro meses da instalação das armadilhas, a situação se inverteu de forma drástica. Na região com intervenção, a média de ovos ficou em 14 por paleta, ou seja, 57% menor que na zona norte, onde a média em abril foi 22.
CAUTELA
Rafael Colombo, que coordena a equipe de supervisores de Saúde do município, lembra que os números ainda não são suficientes para nenhuma conclusão. “Muitos fatores podem interferir na quantidade de ovos. Por isso a pesquisa tem um prazo para se completar e somente após esse período é que poderá haver alguma afirmação, baseado numa redução constante”, disse o supervisor.
PARCERIA
O trabalho é desenvolvido com apoio dos servidores do município, orientação e suporte técnico da Sucen e engajamento dos bolsistas da Fiocruz, que atuam em Marília.
Com a aproximação do inverno, para evitar que as armadilhas com larvicida percam eficácia por eventual falta de manutenção (local inadequado, falta de água, entre outras situações), os agentes de saúde do município estão percorrendo as casas e reorientando os moradores.
Um vídeo com instruções foi gravado pelos pesquisadores e está sendo exibido durante as capacitações nas unidades de saúde. O objetivo é que, no inverno, sejam mantidas as condições para que os alados em circulação continuem a contaminar criadouros. Assim, na chegada do verão, espera-se redução das populações.
A secretária municipal da Saúde, Kátia Santana, reforçou a mensagem às equipes. “Nosso pessoal trabalha arduamente em sua rotina, de controle, e ainda oferece todo apoio aos pesquisadores para que os dados colhidos em Marília possam colaborar para uma nova arma contra o Aedes, futuramente usada em todo Brasil”, afirma.
Um benefício acessório, acredita Kátia, é a redução do Aedes aqui na cidade, porém o principal, nesta fase de pesquisa é a contribuição científica que Marília está oferecendo ao país.
Fotos: Júlio César de Carlis
Nas residências, moradores colaboram mantendo de forma adequada as ovitrampas (armadilhas)
Supervisor de Saúde, que também é bolsista da Fio Cruz, orientada servidores para continuidade da pesquisa